Felicidade e afeto positivo, uma nova perspectiva para os tratamentos das doenças crônicas da pele.

Sempre dizemos que a pele é o nosso espelho para o mundo, que reflete todas as nossas emoções, alegrias, tristezas, estresse, ansiedade, entre outros.

Temos que lembrar que ambos, cérebro e pele, são de origem ectodérmica e, portanto, existe entre eles uma complexa interação entre os sistemas neuroendócrino e imunológico – que tem sido descrito como sistema neuro-imuno-cutâneo. Aqui, temos a liberação de neurotransmissores, neuropeptídeos, que mantêm esta conexão ativa.

O momento em que vivemos, no meio da pandemia e com a nossa liberdade física sendo tolhida, pode nos causar alterações psicológicas e emocionais que levam ao crescente aparecimento das alterações na pele.

Segundo Jafferany (2007), as doenças dermatológicas têm como principais características lesões ou manchas na pele, cujos efeitos estendem-se desde ao impacto físico até a problemas psicossociais capazes de influenciar negativamente a qualidade de vida – relacionamentos, autoimagem e autoestima. Consequentemente, pode-se afetar o estado de saúde mental, sendo os problemas mais comuns a ansiedade e a depressão.

No campo da psicodermatologia, afecções cutâneas podem ser classificadas em quatro categorias:

  1. Desordens psicofisiológicas, nas quais uma condição de pele é agravada por condições psicoemocionais;
  2. Desordens psiquiátricas primárias, em que não existe uma condição primária da pele, e todas as manifestações cutâneas são autoinduzidas;
  3. Desordens psiquiátricas secundárias, quando os pacientes desenvolvem problemas psicoemocionais como consequência das doenças cutâneas;
  4. Distúrbios sensoriais cutâneos, nos quais o paciente apresenta uma queixa puramente sensorial, sem evidências visíveis de doença de pele ou de outra condição médica (Poot et al. 2007).

Ansiedade → Estresse → Reações inflamatórias na pele

A ansiedade pode causar erupções cutâneas, urticárias, outros tipos de lesões e até desencadear um surto de herpes simples.

Várias doenças de pele foram desencadeadas por estresse, ou relatadas com quadros exacerbados, como psoríase, eczema, acne e herpes simples. Além disso, também torna-se mais difícil as doenças de pele serem curadas – como o estresse agrava o dano à pele, acredita-se que o sistema nervoso autônomo e o eixo hipotálamo-hipófise adrenal (HPA) são ativados em condições estressantes, fazendo com que as células T auxiliares liberem hormônios e neuropeptídeos. Assim, liberam neurotransmissores que, em última instância, levam à instabilidade vascular em pacientes com dermatite (Tohid et al. 2019).

Muitos estudos nos últimos anos têm investigado o impacto da saúde mental nos tecidos, principalmente do estresse no comportamento da pele, que é influenciada pelos hormônios e pelas nossas emoções.

Quando estamos estressados podemos verificar outras mudanças fisiológicas como o aumento da perda de hidratação, vermelhidão e maior sensibilidade, onde as emoções negativas podem afetar o sistema imune e causar alteração na resposta via citocinas inflamatórias.


Bem-estar e afeto positivo, uma nova abordagem para saúde da pele

Um estudo realizado Schuster et al. (2020), Happiness in dermatology: a holistic evaluation of the mental burden of skin diseases, teve como objetivo avaliar o bem-estar subjetivo, ou seja, a ‘felicidade’ em pacientes com diferentes doenças de pele e compará-los com outros grupos de pacientes e controles saudáveis.

Foram 229 pacientes dermatológicos (psoríase, eczema atópico, mastocitose e câncer de pele), 49 pacientes com doenças crônicas inflamatórias intestinais, 49 pacientes com HIV e 106 pacientes controle analisados.

Todos os participantes preencheram um questionário avaliando a felicidade, medida como afeto positivo, afeto negativo e satisfação com a vida (SCV; juntos representam o bem-estar subjetivo) e uma avaliação heurística da própria felicidade.

O resultado mostrou que, em comparação com os controles, os pacientes dermatológicos relataram menor felicidade heurística (P = 0,023) e afeto positivo (P = 0,001), mas maior SCV (P = 0,043).

Pacientes com psoríase e eczema atópico relataram a menor felicidade, uma vez que sinalizaram afeto positivo significativamente menor (P = 0,032 e P <0,001) e felicidade heurística (P = 0,002 e P = 0,015) do que o grupo de controle.

Pacientes dermatológicos relataram menor felicidade do que pacientes com HIV, mas relataram maior felicidade do que pacientes com doenças crônicas inflamatórias intestinais.

“Integrar o bem-estar parece uma abordagem promissora, especialmente na dermatologia.”

Integrar o bem-estar parece uma abordagem promissora especialmente na dermatologia, pois os estudos encontram relações significativas entre fatores psicossociais, principalmente relacionados ao estresse na ocorrência, gravidade e progressão de doenças de pele, e que fatores psicológicos podem desempenhar um papel no tratamento das doenças.

Além disso, o afeto positivo demonstrou estar associado a vários resultados de saúde desejáveis, como melhor saúde cardiovascular, melhores respostas imunológicas, cicatrização mais rápida de feridas e redução da dor.

Além desses resultados benéficos, o bem-estar dos pacientes é um objetivo valioso em si mesmo. Explorar o bem-estar entre os pacientes afetados utilizando diversas medidas pode contribuir muito para uma melhor compreensão e tratamento de doenças de pele.

Ter emoções positivas faz bem para pele! Vamos encontrar o que nos faz feliz e cultivar o afeto positivo. A sua pele sentirá os benefícios!


Referências bibliográficas:

Jafferany, M. (2007). Psychodermatology: A guide to understanding common psychocutaneous disorders. Primary Care Companion to the Journal of Clinical Psychiatry, 9(3), 203. doi: 10.4088/pcc.v09n0306

Poot, F., Sampogna, F., & Onnis, L. (2007). Basic knowledge in psychodermatology. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, 21, 227-234. doi: 10.1111 / j.1468-3083.2006.01910.x

Schuster B, Ziehfreund S, Albrecht H, Spinner CD, Biedermann T, Peifer C, Zink A. Happiness in dermatology: a holistic evaluation of the mental burden of skin diseases. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2020 Jun;34(6):1331-1339. doi: 10.1111/jdv.16146. Epub 2020 Jan 19. PMID: 31838769.

Tohid H, Shenefelt PD, Burney WA, Aqeel N. Psychodermatology: An Association of Primary Psychiatric Disorders With Skin. Rev Colomb Psiquiatr. 2019 Jan-Mar;48(1):50-57. English, Spanish. doi: 10.1016/j.rcp.2017.07.002. Epub 2017 Oct 14. PMID: 30651173.


POR: ELIANA MIKA YAMAGUCHI

3 thoughts on “Psicodermatologia e o Impacto na Pele

  1. Vanessa says:

    Parabéns Mika! Excelente texto e abordagem. Só quem passa ou trata destes distúrbios sabe o impacto na pele. Temos mais esse olhar científico e acolhedor em prol da saúde. Você arrasa sempre! 💕

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